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Prevalência de diabetes e intolerância a glicose em pacientes com dor crônica

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A dor pode ser classificada como aguda ou crônica, conforme a duração dos sintomas. É consideradodor crônica aquela dor que persiste por mais de três meses. Existem quatro categorias básicas de dor crônica, conforme os mecanismos fisiopatológicos: dor nociceptiva, neuropática, inespecífica e ou psicogênica. As repercussões funcionais e psicossociais da dor crônica não controlada, como fadiga, depressão, diminuição de socialização, anorexia, anormalidades do sono e da marcha e a imobilidade, comprometem a qualidade de vida do indivíduo. A dor pode, muitas vezes, ser a única manifestação clínica de uma doença. A dor crônica é uma condição prevalentena população geral 1,2. O diabetes mellitus(DM)e a intolerância a glicose estão aumentando entre apopulação3-4. A diabetes esta relacionada a uma série de condições crônicas dolorosas, como síndromes dolorosa do ombro5, fibromialgia6e neuropatias7. Pesquisas atuais têm demonstrado que a dor crônica tem alta prevalência em diabéticos8e é uma condição importante da perda da International Journal of Nutrology, v.6, n.3, p. 115-121, Set / Dez 2013 115 qualidade de vida (QV) neste grupo de pacientes9. A dor crônica e o DM têm em comum, alterações biológicas como liberação de bradicinina, interleucina, hiperregulação dos receptores B1 ou B2. A ação das citocinas nos receptores B1 e B2 tem papel chave no mecanismo fisiopatológico do DM e no mecanismo inflamatório da dor crônica10-12. Outros mecanismos relacionam-se ao efeito direto neurotóxico nos nervos autonômicos periféricos terminas quando existe aumento da glicemia. Estudos epidemiológicos têm demonstrado aumento da prevalência de dor crônica em pacientes com DM ou intolerância a glicose8, porém faltam estudos que demonstrem o aumento da prevalência de diabetes e ou intolerância a glicose em pacientes que sofrem de dor crônica, pois a dor crônica poderia ser um dos indicadores clínicos precoce para diabetes ou intolerância a glicose. Desta maneira muitos pacientes que sofrem de dor crônica poderiam ter um diagnóstico etiológico mais preciso, amenizando seu sofrimento, além da possível prevenção das complicações precoces e tardias da intolerância a glicose ou diabetes. O objetivo deste estudo foi avaliar na população adulta a prevalência de diabetes e intolerância a glicose em pacientes com dor crônica comparado com pacientes sem dor crônica em um ambulatório privado especializado em nutrologia. MÉTODO O estudo foi conduzido entre os dias10 de janeiro a 10 de abril de 2011. Foram selecionados o total de 60 pacientes, 30 pacientes com dor crônica, com duração de pelo menos 3 meses, e 30 pacientes sem queixa de dor crônica. Os 60 pacientes foram selecionados no ambulatóriode neurologia da Clínica Higashi do Centro Médico Athenas localizado no Rio de Janeiro, centro médico privado referência em neurologia pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e dor pela Sociedade Brasileira de Estudo da Dor (SBED) e encaminhados para avaliação no ambulatório de nutrologia da Clínica Higashi. Todos os pacientes com dor crônica foram avaliados previamente por médico especialista em neurologia com certificação em diagnóstico e tratamento da dor pela ABN e SBED. No ambulatório de nutrologia todos os pacientes foram estudados prospectivamente para o diagnósticode diabetes ou intolerância a glicose através do teste detolerância oral com medição glico-insulinica basal após 2 horas com estímulo de 75 gramas de glicose. Os exames foram realizados em laboratórios que possuem selo de qualidade ISO 9001. Além dos exames laboratoriais foram coletados para este estudo informações com relação ao gênero, idade do paciente e local da dor. Os critérios de exclusão foram idade menor que 18 anos, alteração cognitiva grave e doença oncológica prévia. RESULTADOS Do total da amostra, dos 30 indivíduos com dor crônica selecionados 24 são mulheres e 6 homens, destes,6 pacientes (20%) tinham diabetes, 3 pacientes (10%) tinham intolerância à glicose, totalizando 9 pacientes (30%) com alteração do nível glicêmico com intolerância a glicose ou diabético (Tabela 1). Destes 30 pacientes com dor crônica os locais da dor foram: 8 dor lombar, 7 dor de cabeça, 4 dor cervical, 3 fibromialgia, 2 dor no ombro, 1 dor dorsal, 1 dor na perna, 1 dor no tórax, 1 dor no joelho, 1 dor no quadril e 1 dores nas mãos. Dos 30 indivíduos sem dor crônica foram selecionados 15 mulheres e 15 homens, destes 1 paciente (3,3%) foi diagnosticado como diabético, 3 pacientes (10%) com intolerância a glicose , totalizando 4 pacientes (13,3%) com alteração do nível glicêmico com intolerância a glicose ou diabetes (Tabela 2). Dos pacientes com dor crônica e diabetes, 1 paciente tinha dor no ombro, 1 dor lombar, 1 dor no joelho, 1 dor nas mãos, 1 com fibromialgia e 1 com dor de cabeça. Dos pacientes com dor crônica e intolerância a glicose, 2 pacientes tinham dor de cabeça, 1 fibromialgia. Somando os 9 pacientes com diabetes ou com intolerância a glicose a dor de cabeça foi o local da dor mais comum com 3 pacientes (33,3%) em segundo lugar foi a dor difusa do tipo fibromialgia com 2 pacientes (22,2%) Houve significância estatística (p<0,05) (Tabela 3) na prevalência de alteração do nível glicêmico ou intolerância a glicose) em pacientes com dor crônica (30%) em comparação com pacientes sem dor crônica DISCUSSÃO A importância deste estudo está no fato de que até o momento não existe estudo que associe a dor crônicacomo sinal clínico precoce de diabetes ou intolerância a glicose. Outros estudos sugerem que diabetes é associado à dor crônica, porém faltam estudos que afirmem o inverso, ou seja, o aumento da prevalência de alteração glicêmica em pacientes com dor crônica. Estes achados podem corroborar com outros estudos e podem ter um impacto no protocolo da investigação de dor crônica e refratária. A escolha de pacientes sem dor crônica como controle pode representar um grupo de indivíduos mais saudáveis que não representaria a população geral, pois alguns estudos relatam que a dor crônica esta presente em 40% da população geral13,14, como consequência a ausência de dor crônica poderia representar uma parte da população que tem maior preocupação com prevenção, por exemplo, exercício físico, alimentação balanceada, etc., diminuindo seu risco de alteração glicêmica, podemos constatar este fato pela baixa prevalência de diabetes neste grupo (3,3%) quando comparado com a prevalência de diabetes na população geral (7,6%) e sua alta prevalência,neste estudo, em pacientes com dor crônica (20%). Foi demonstrado neste estudo que a presença de dor crônica aumentou a prevalência de diabetes em relação a população geral, 7,6% na população geral e 20% neste estudo. O fato da dor de cabeça ser o local da dor crônica mais prevalente (33,3%) e em segundo lugar a fibromialgia com (22,2%) entres os pacientes com dor crônica, diabéticos ou pré-diabéticos demonstra a necessidade de investigar a possibilidade de diabetes ou intolerância a glicose neste grupo de pacientes com dor crônica, prosseguindo na investigação clínica a procura de outros sinais que corroborem como fator de risco para diabetes como o aumento da circunferência abdominal, aumento do índice de massa corpórea (IMC), polidipsia, poliúria, história familiar de diabetes, etc. Foi demonstrado também neste estudo um aumento significativo na prevalência de alteração glicêmica nos pacientes com dor crônica quanto maior a sua idade, possivelmente pelo fato do envelhecimento ser associado ao aumento da resistência insulínica periférica e obesidade. Outros estudos devem ser realizados com um maior número de pacientes além da necessidade da descrição detalhada do tipo da dor, por exemplo, pontada, pressão, ardência e etc., pois o detalhamento específico das características da dor pode ajudar no diagnóstico semiótico mais preciso da dor causada ou deflagrada por alteração dos níveis glicêmicos. Mais estudos com maior número de pacientes são necessários. CONCLUSÃO Os resultados do presente estudo indicam que a dor crônica pode ser um sintoma precoce de alteração glicêmica como diabetes ou intolerância a glicose, principalmente dor localizada na região da cabeça e ou dor generalizada.

Autor

Dr Rafael Higashi

Dr Rafael Higashi

Nutrólogo, Neurologista

Mestrado em medicina - neurologia no(a) uff.